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  • Mylena Gadelha, Rebecca Ramos e Taís Barros

Um jornalista de batente


Ao longo de 27 anos de carreira, Lauriberto Carneiro Braga acumula histórias do trabalho jornalístico e mostra o quanto ser versátil é importante nesta profissão. De editorias como esporte, política e cidade, Lauriberto parece possuir uma ideia bastante firme sobre o papel do jornalista na sociedade e sobre as responsabilidades que devem vir com a profissão. “Eu posso até não dar um furo, até não dar a notícia de primeira mão, mas é correta.”

Como professor de Comunicação Social – Jornalismo no Centro Universitário Estácio do Ceará, ele também percebe o papel central que a experiência universitária possui na formação do profissional da comunicação e procura entender o papel do debate nas graduações. “Eu vejo o senso crítico como fundamental para o jornalista e para a comunicação”.

Flexibilidade e agilidade marcam o seu currículo. As histórias demonstram a evolução e as lições que aprendeu no “batente”. Desde aluno bolsista da Rádio Universitária da Universidade Federal do Ceará nos tempos de graduação à radialista da Câmara dos Vereadores, ele mostra seu orgulho pela profissão, que apesar dos percalços, o faz desejar estar em um processo de constante mudança.

LIGA – Você é graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), possui algumas pós-graduações na área e leciona no Centro Universitário Estácio do Ceará. Como você enxerga esse papel da universidade na formação do profissional do jornalismo?

Lauriberto - Fundamental! Apesar de que hoje não se exige mais o diploma de jornalista, como não se exige na publicidade. E também, eu não vou te ensinar a escrever, professor nenhum te ensina a escrever, nem lá no primário, no secundário, isso é uma coisa que você desenvolve. Eu tenho um estilo de escrever, você tem o seu! A única coisa que se exige é que o aluno escreva de acordo com as normas gramaticais, mas o estilo de escrever é meu até porque o que a faculdade de jornalismo te proporciona, além das técnicas, é o senso crítico, se não todos escreveríamos igual e não é isso que acontece! Talvez você aprenda as técnicas, ou de como se sair em determinadas situações, como se portar em veículos como a internet, assessoria de imprensa. Mas por si só, eu vejo o senso crítico como fundamental para o jornalista e para a comunicação. Além disso, a graduação não forma só o jornalista, – podemos usar o termoe não é errado – nós somos também comunicólogos! Podemos questionar as teorias, como a norte-americana, da Escola de Frankfurt. E porque não? Porque elas vão estar sempre certas? Porque não fazemos as nossas teorias? Trabalhar o tal jornalismo humanizado, sobre o qual debatemos muito hoje. O jornalismo social, não pensando que vamos resolver todos os problemas, mas eu quero questionar aquela coisa do ser imparcial. Em determinados momentos eu posso ser parcial, jornalista tem opinião e porque não ter? Eu não vou é colocar minha opinião na entrevista e ludibriar o meu leitor, mas em um artigo eu assino embaixo e dou a cara a tapa, quem mais, de todas as profissões, que conhece aquilo que está falando, que está contando? Tem uma opinião? Escreve um artigo, um comentário e assina! E aceita as responsabilidades e as consequências daquilo! Então nós somos comunicólogos e podemos questionar tudo isso aí que a gente vê, que o professor passa. Estamos aqui pra isso! A universidade e os cursos superiores têm essa missão, se renovam as grades dos cursos e necessitamos de cadeiras que sejam também aplicadas ao jornalismo.

LIGA – Você trabalha atualmente na Rádio da Câmara dos Vereadores e já trabalhou em editorias como Esporte, Cidade e atualmente Política. O que te levou, ou te influenciou a se interessar por essas áreas?

Lauriberto - O esporte, mais o futebol – até porque muitos dos esportes não têm tanto espaço assim como, por exemplo, o nosso basquete cearense, – sempre me interessou. Meu pai foi torcedor do Ceará, me acostumei a ouvir rádio, mas meu pai nunca foi ao estádio e sempre foi um torcedor de “pé de rádio”. Eu comecei a gostar do Ceará, não torço, eu admiro o time. Fico alegre quando ganha, mas não sou do tipo que fica triste quando ele perde. Minha relação foi essa, e tem a questão das oportunidades, mas a política foi um desafio. Na minha segunda passagem pelo jornal O Povo, eu fui trabalhar com política e também teve a questão da correspondência para agência O Estado na qual eu tinha que fazer de tudo, e a primeira matéria que eu escrevi para a agência foi sobre a visita do Lula ao estado, na campanha eleitoral, pra presidente. Boa parte das demandas que eu recebia, como era período eleitoral, eram de política. Nós somos seres políticos, meus atos e minhas escolhas são política, existe a política partidária e os atos que um prefeito ou governador escolhem realizar, também são política. E através do nosso trabalho nós podemos mostrar e até mesmo criticar estes atos, claro que muitas vezes dependendo do veículo pro qual você trabalha. Você pode fazer uma cobertura política bem esclarecedora, assim como se faz em outras editorias como polícia, cidade. Mas todas as áreas do jornalismo são interessantes, todas estão no mesmo patamar. Talvez o esporte e a polícia sejam menos valorizados, porque são mais populares. Mas nós jornalistas, somos como clínicos gerais, se vamos falar sobre determinado assunto, nós temos que saber sobre ele.

LIGA – Com tantos anos de atuação em nosso estado, como você descreve sua relação com Fortaleza?

Lauriberto - Eu sempre fui muito curioso, meus pais sempre queriam que eu fosse advogado ou médico, e eu sempre tive essa curiosidade, né. Sempre fui muito observador. Então todo lugar que eu saia, eu observava. Tem que conhecer a cidade, né? Na minha primeira passagem pelo Diário do Nordeste, comecei no Interior e depois fui para uma página chamada “Jornal dos Bairros”, que não existe mais. E eu, como repórter, tinha que escrever a matéria, então todo dia a gente ia pra um bairro. Mas principalmente, eu ia e tinha que observar a minha volta. Então tinha que saber se localizar, se virar. O Centro, além da história, que já é importante, tem a sobrevivência dele no comércio, que é o ponto mais importante da cidade, movimenta muito mais lucro do que o próprio Iguatemi. Dá pena, sabe? As praças abandonadas, as ruas e o calçadão, quer dizer, projetos existem, e muitos projetos. A cidade se ressente. Muitos gestores pensam: “Ah, porque eu vou passar só quatro anos, não dá pra fazer nada, as obras não dá tempo”. Rouba menos e faz mais. Não é uma coisa pontual. A Copa do Mundo vai durar o que, um mês? Vinte dias? A cidade (as obras da cidade) que, a Copa pode ter empurrado, ter “engatado uma primeira, segunda marcha” mas o que deu de “marcha ré” foi absurdo se comparar o que foi prometido com o que vai ser executado. Vai ser entregue talvez 20, 30%. Eu não entendo jornalista que só vive na redação. Não há nada mais frio do que matéria feita por telefone, ou por e-mail. O jornal vai cobrir um jogo que acontece no Castelão ou no Estádio Presidente Vargas, porra, vai no estádio, cacete. Que preguiça é essa de ir pro estádio? “Ah, porque o jornal tem pressa, a matéria tem que ser publicada assim que acabar o jogo.” Leva o modem 3G pro Castelão, envia de lá. Eu posso até não dar um furo, até não dar a notícia de primeira mão, mas é correta.

LIGA – Como ex-correspondente do Estadão(jornal veiculado em São Paulo),de que forma você percebe a relação da imprensa local com a imprensa nacional?

Lauriberto - Não existe imprensa nacional. O Estado de São Paulo, O Globo, O Correio Brasiliense circulam lá.Eu vou ter que comprar, ter uma assinatura pra poder receber aqui.Tenta comprar um Diário do Nordeste lá! Vamos dizer que a tiragem da Folha seja 300 mil, tá lá! Vai no máximo pra Sudeste e Centro-oeste. Agora essa questão, eles tem uma visão muito preconceituosa. Às vezes eles me ligavam:“Olha, Lauriberto, tem uma coisa lá em Recife.”Como se fosse uma coisa só, como se fosse bem pertinho e não é! Eles são centralistas, pega pelo extremo mesmo, pelo que vai gerar notícia. Por exemplo, na política, tem duas pessoas que ainda hoje dão notícia nacional, o Ciro Gomes e o Tasso Jereissati, o Cid nem tanto. Eles não vão colocar notícias de acidentes. Pegam mais o extraordinário,ah o ônibus virou e matou não sei quantos,pode ser que eles coloquem. Mas,ah o ônibus virou e não matou ninguém, eles não colocam. Mas a gente sofre muito, porque o que a gente pensa que poderia ser não é o que vai. Mas é um trabalho de complemento. Geralmente, a gente oferece as pautas e eles escolhem se compram ou não, geralmente não. Mas a imprensa nacional, eu não vejo, já existiu, mas hoje em dia não. Talvez os impressos de lá – São Paulo e Rio de Janeiro, talvez Brasília – ditam alguma coisa pros nossos jornais até porque os nossos jornais são consumidores das agências desses veículos.

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