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  • Diego Vasconcelos

Futebol também é lugar de LGBTQIA+

Ainda que de forma lenta, o futebol vem se tornando esporte mais acolhedor para a população LGBTQIA+

Foto: Reprodução

O futebol é um ambiente predominantemente machista. É comum ouvir gritos de “bicha” nas partidas, termo usado pejorativamente. Essas atitudes se refletem na forma como pessoas LGBTQIA+ são tratadas no ambiente. Em um esporte que é tratado como inclusivo, em que existem ídolos com corpos atleticamente perfeitos, até jogadores franzinos “estranhos”, o esporte ainda falha em pontos essenciais, entre eles a aceitação de jogadores homossexuais. Dentro dessa problemática, questiona-se se realmente o futebol é um esporte de “todos porque é de todos”.

A história vem mostrando que o futebol não é muito acolhedor às pessoas homossexuais. Pouquíssimos jogadores se assumiram em toda a história, e quem o fez normalmente não continuou no esporte. Talvez um dos mais conhecidos a se assumir foi o alemão Thomas Hitzlsperger. Ele jogou em times bastante conhecidos na Europa e chegou a jogar a Copa do Mundo de 2006 pela Alemanha. Comentou publicamente sua orientação sexual em 2014 e se aposentou logo em seguida.

Justin Fashanu notoriamente começou uma luta contra homofobia no futebol (Foto: Getty Images)

O inglês Justin Fashanu teve um caminho mais trágico. Um dos pioneiros na luta contra a homofobia no futebol, Fashanu se assumiu em 1990 e a partir daí sua carreira começou a ruir. Vários times começaram a rejeitá-lo, passando a jogar em ligas menores. Em 1998, foi acusado de ter abusado sexualmente de um garoto de 17 anos, mas nada foi comprovado. A acusação foi ápice do sofrimento do jogador, que foi encontrado morto no mesmo ano. Junto dele estava uma carta:

 

"Me dei conta de que eu havia sido condenado. Não quero mais ser uma vergonha para meus amigos e minha família. Ser gay e uma personalidade é muito difícil, mas não posso reclamar disso. Queria dizer que não agredi sexualmente o jovem. Ele teve sexo consensual comigo, no dia seguinte, me pediu dinheiro. Quando eu recusei, ele falou 'espere e você vai ver só'. Se esse é o caso, eu ouço vocês dizerem, por que eu fugi? Bom, a justiça nem sempre é justa. Senti que não teria um julgamento justo por conta da minha homossexualidade. Espero que Jesus me dê boas vindas e que finalmente eu encontre a paz."

 

Recentemente, no Brasil, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) informou que os torcedores que entoarem gritos homofóbicos verão suas atitudes resultarem em três pontos a menos na tabela de classificação de seus times. Isso quase foi posto em prática durante uma partida entre Vasco e São Paulo; a torcida vascaína entoava cânticos homofóbicos ao time adversário. O árbitro Anderson Daronco parou o jogo e ameaçou a comissão técnica do Vasco, que prontamente pediu para a torcida cessar o ato homofóbico. Nos dias que se seguiram, diversos times do Brasil fizeram campanhas nas redes sociais pedindo para seus torcedores mudarem seus comportamentos. Mas o que se viu, de fato, foi um medo dos times de perderem os 3 pontos e não uma preocupação real com o fim da homofobia.

Apesar de tudo isso, existem pessoas que vão remando contra a maré. No Brasil, já existem vários times LGBTQIA+. No Rio de Janeiro, o popular BeesCats é um time formado por homossexuais que compete internacionalmente. A nível nacional, eles competem na LiGay - Liga Nacional de Futebol Society no Brasil, a qual reúne equipes profissionais e semi-profissionais composta por membros LGBTQIA+.

Em Fortaleza, o Cangayceiros é um grupo de jogadores LGBTQIA+ que também se reúnem para jogar. A nível mundial, são realizadas às Olimpíadas Gays e a X Gay Games, eventos esportivos que reúnem atletas LGBTQIA+ de diversas modalidades. Na última edição da X Gay Games, realizada em Paris, a comissão brasileira levou mais de 100 atletas, número recorde para o país.

Aos poucos, os esportes em geral vão se tornando mais acolhedores para a população LGBTQIA+. Dentro e fora do campo, no gramado e na arquibancada, pode-se vislumbrar um sinal de mudanças. Se o árbitro Anderson Daronco resolvesse ignorar a homofobia dos torcedores vascaínos, passaria despercebida. Mas essa atitude, apesar de não passar de uma obrigação, mostra que a postura vem mudando. É de iniciativas como essa e de competições inclusivas que começam a nascer o respeito a quem convive com o desrespeito e a invisibilização. Dessa forma, quem sabe no futuro não veremos uma pessoa trans no futebol? Ou uma pessoa assumidamente bissexual? Hoje não existe nenhuma conhecida publicamente, mas com certeza estamos caminhando para a possibilidade de um sentimento de pertencimento para esses indivíduos.

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