Torcedores vestindo preto durante partida na Bulgária (Foto: Reprodução/Getty Images)
Bulgária, 14 de outubro de 2019. Em campo, acontecia a partida entre a seleção local e a Inglaterra. Cerca de 25 minutos depois do apito inicial, veio a primeira paralisação. O motivo? Um grupo de torcedores fazia gestos e som de macacos cada vez que os ingleses Tyrone Mings e Marcus Rashford, negros, tocavam na bola.
Os próprios jogadores, além do capitão e do treinador da Inglaterra, relataram o ocorrido para o árbitro de campo, segundo orienta o protocolo (sim, existe um protocolo!) da UEFA, federação europeia de futebol.
Caso os insultos racistas persistissem, o jogo poderia ser encerrado. Com esse risco iminente, o capitão da seleção búlgara virou para o grupo racista e pediu para que parassem, mas as ordens não foram obedecidas. No segundo tempo, o alvo foi outro: Raheem Sterling, jamaicano naturalizado inglês.
Como se não bastasse, o grupo que se vestia de preto passou alguns minutos fazendo saudações nazistas e levava casacos com a frase "No respect" (em tradução livre, "Nenhum respeito"), em referência irônica ao slogan divulgado pela UEFA, o qual pede respeito a todos no futebol.
Mesmo com protocolos e punições, o espaço do futebol — que é de absolutamente todos que o quiserem acompanhar e amar —, ainda é cheio de preconceitos enraizados e não só no Brasil. Apenas este ano, torcidas de times italianos e russos (só para citar os casos mais destacados) entoaram cânticos racistas contra jogadores negros dos rivais. Em um dos casos mais absurdos, o próprio time do atleta que foi vítima defendeu o ato, dizendo que é um tipo de provocação comumente utilizado por lá.
Em entrevista coletiva após a partida entre Bahia e Fluminense, com os dois únicos treinadores negros na Série A do Brasil, o comandante do time nordestino fez um discurso forte e necessário sobre a falta de um combate mais efetivo ao racismo no país. "Nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado. Quando eu digo para as pessoas que não sofri preconceito diretamente, com a ofensa e a injúria... elas são apenas um sintoma dessa causa social. A culpa desse atraso depois de 388 anos de escravidão é do Estado. A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. [Diz-se] que não existe racismo no Brasil sob o mito da democracia racial. Negar e silenciar é confirmar o racismo."
Enquanto houver esse silenciamento sobre o combate ao racismo no futebol, dentro e fora das quatro linhas, episódios como esse ainda farão parte do esporte, tal e qual na sociedade. É também responsabilidade de cada um de nós ajudar na mudança e evolução desse cenário. Além disso, punições mais severas e recorrentes por parte dos órgãos que gerem o futebol são urgentes. Mesmo que alguns digam o contrário, o futebol é, sim, um lugar político. É de todas as pessoas, para todas as pessoas.