Por Lucas Matheus, Vitoria Evelyn e Eduarda Rocha.
O Ceará é uma terra famosa por suas belezas naturais, por ser um berço de muitos talentos do humor, e por seu destaque no quesito Música. Com grandes nomes que antecedem ao movimento em questão, eis que despontam nomes como Belchior, Ednardo e Amelinha, que obtiveram destaque nacional a partir da década de 1970. Juntamente com vários artistas e intelectuais cearenses, a exemplo de Rodger Rogério, Teti e outros, ficaram conhecidos como “Pessoal do Ceará”. O Estado tem mantido viva a sua regionalidade através da música e respeitado esses cantores que são, por muitos, considerados da antiga geração.
Recentemente, o cantor Ednardo foi chamado para realizar um show no “Natal de Luz”, evento que ocorre anualmente em Fortaleza com várias atrações artísticas, e em seu repertório estavam algumas de suas músicas mais famosas, como “Carneiro”, “Artigo 26” e “Terral”, animando grupos de todas as idades. Além disso, no dia 26 de março, a cantora Amelinha realizou seu mais recente show “Todo Mundo Vai Saber” no Cineteatro São Luiz e interpretou alguns clássicos nordestinos, incluindo “Mucuripe”, “Asa Branca” e, ao final, “Frevo Mulher”, o que fez o público levantar de seus lugares e se dirigir à frente do palco para cantar e dançar junto da artista.
A apresentação desses cantores e a alta adesão do público de todas as idades servem para mostrar que, embora “antigas”, essas personalidades ainda marcam presença na geração atual da música local e nacional não sendo esquecidos ao longo do tempo.
Mas, e quanto a geração atual de artistas cearenses? Possui grandes nomes e não fica para trás, apresentando: Mateus Fazeno Rock. Nascido em Sapiranga, Fortaleza, o cantor é considerado como uma revolução da MPB (Música Popular Brasileira) por contrapor às formas hegemônicas de criar rock. Buscando também referenciar os artistas da antiga geração, como fez em sua conta na rede social “X”, antigo “Twitter”, ao citar um trecho da música “Como Nossos Pais” de Belchior:
“vou ser obrigado a concordo com o meu mano Belchior ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”
Outra personalidade importante a ser lembrada é a do cantor Getúlio Abelha, que embora nascido no Piauí, durante 10 anos, fez de Fortaleza seu lar. Getúlio, que canta forró utilizando de uma estética pop e alternativa, furou a bolha local em 2017 e vem ganhando cada vez mais espaço no cenário nacional durante os últimos anos. Já participou de grandes festivais regionais, tais como a “Maloca do Dragão” e a “Virada Cultural ", ambos sendo em Fortaleza e não se limitando apenas à região, também participou da SIM São Paulo (Semana Internacional de Música). O cantor traz vivências regionais em suas letras e representatividade para comunidade LGBTQIAPN+ de um jeito único, marcante e divertido.
Não esqueçamos também Gabriel Aragão, Caio Evangelista, Nicholas Magalhães e Rafael Martins, atuais integrantes de uma das bandas mais conhecidas de Fortaleza: Selvagens à Procura de Lei. O grupo de rock foi formado no ano de 2009 e rapidamente tornou-se popular, apresentando-se em festivais famosos como “Lollapalooza” nos ano de 2014 e 2018, além de realizar shows internacionais, como em Buenos Aires, Argentina e também representaram o Brasil em Moscou durante a Copa do Mundo de 2018. A banda possui forte influência do Rock Nacional dos anos 1980, também podendo ser vista uma relação com o Indie Rock do anos 2000.
A última edição do evento “Férias na PI” trouxe, dentre vários famosos, essas três personalidades no primeiro dia de atrações artísticas, o que causou, no público presente, um grande entusiasmo, mostrando que a cultura local ainda continua viva e revelando uma coexistência geracional entre os “antigos” e atuais nomes da música cearense.
A produção musical em Fortaleza é constante, logo, novos artistas e bandas vão surgindo. A Doces Deletérios, por exemplo — banda que fez seu primeiro show no ano de 2023 como participante do Projeto Noites Insólitas da Rede Cuca —, é uma ótima representação dessa junção entre o passado e o futuro. Dona de uma sonoridade que abrange desde influências da MPB tradicional, até a psicodelia nacional e o indie brasileiro. A banda — que é composta por Alain Bezerra, Pedro Lopes, Maitê Viana e João Gabriel Coelho —, costuma trazer em seus shows um repertório autoral, mas preza por fazer, no mínimo, um cover de grandes nomes da música nacional, como Gilberto Gil, Dominguinhos e Tom Jobim.
Quando perguntados sobre o porquê de fazerem esse tipo de homenagem, os integrantes da banda responderam:
“Somos bem novos, e as nossas referências são quase sempre de pessoas mais velhas do que nós. Nos covers, tentamos resgatar músicas dessas pessoas, que nos inspiram e trilharam um caminho antes da gente. Até como uma forma de sempre relembrar quem nos faz ser quem somos, e não deixar essas músicas serem apagadas. Também é interessante mostrar que consumimos de tudo, de todas as gerações. De pessoas mais velhas, pessoas que já se foram, gente da nossa idade, gente mais nova…” (Viana e Bezerra, 2024, n.p).
Por fim, fica nítida a importância do “Pessoal do Ceará” para o atual contexto da música cearense, sendo, muitas vezes, uma inspiração para os novos nomes que vêm surgindo nessa indústria, os quais levam, de forma autêntica, uma importante parte cultural do Ceará.
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