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  • Adriele Ribeiro e Virtória Vasconcelos

O idoso brasileiro no século XXI

Há quem diga que a terceira idade é a melhor que existe e que os problemas são deixados para trás ao alcançá-la. Essa afirmação não se aplica na realidade dos idosos brasileiros, os quais têm diversos direitos constitucionais desrespeitados, o que faz com que sua vivência durante a velhice no país seja repleta de empecilhos.


Os idosos são cidadãos, como todos nós, mas seus direitos são duplamente impostos, tanto pela Constituição Federal, que age em nome de todos os brasileiros, quanto pelo Estatuto do Idoso, que completa 18 anos neste 1º de Outubro.


Ao pensar na garantia dos direitos dessa população, a aplicação do Estatuto parece deixar no campo das ideias o que devia ser essencial na vida desses indivíduos, tanto pela falta de ação governamental quanto pelos preconceitos enfrentados perante a sociedade.


Envelhecer é natural e todos deveriam estar preparados para isso, inclusive o Estado, mas a realidade do Brasil é outra.


Enquanto países da Ásia e Europa têm sistemas de saúde capazes de atender às necessidades de sua população idosa, no Brasil o acesso a serviços básicos é difícil para a população adulta, que passa horas em filas de espera, sentadas em corredores de hospital e esperando por atendimento.


Imaginemos, então, como se dá a realização de consultas, exames e atendimentos da terceira idade dentro do nosso sistema de saúde pública, uma vez que essa população é a mais afetada com doenças crônicas, sistema imune indefeso e suscetibilidade a acidentes domésticos, se tornando a que mais depende do sistema de saúde e que é mais limitada a chegar até ele.


O Estatuto do Idoso cria parâmetros que seriam capazes de ser garantidos em países mais bem estruturados que o Brasil, mas com o avanço crescente da população com mais de 60 anos nos últimos 30 anos, a capacidade de adaptação da saúde pública ficou defasada, assim como outras áreas de responsabilidade governamental, como educação, lazer e moradia.


Ao falar da educação, é possível identificar pontos sensíveis nesta área que afetam os idosos, como ser o grupo que lidera os índices de analfabetismo no Brasil, com 30% de iletrados, como apurado pela Agência Brasil e ao especificar mais os números, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) expõe que 37% dos idosos nordestinos não sabem ler e nem escrever. Essa realidade, reflexo do passado marcado pelo trabalho rural no qual não se tinha a opção de se dedicar aos estudos e nem acesso à educação digna, mostra como o desenvolvimento do país ficou atrasado em relação ao desenvolvimento da população.

Os problemas dos mais velhos não param por aí. Além de não possuírem garantias governamentais, a convivência perante a sociedade torna-se mais uma barreira para a consagração dos direitos dos idosos e do pleno cumprimento do Estatuto do Idoso.


Seja no cotidiano ao negarem o assento em um ônibus coletivo ou na falta de cuidado dos familiares, a população brasileira também sofre as consequências da falta de preparo governamental e não se adequa às necessidades da terceira idade. Além de situações de descaso da sociedade, a violência para com os idosos também é presente, seja ela física ou psicológica, expondo a realidade vivida por este grupo que deve ser tratado com respeito, assim como os seus direitos.


Se ao pensar em um idoso lhe vem à mente um velhinho indefeso fazendo tricô, sua perspectiva está muito estreita diante dessas pessoas, o que reforça o estigma de inutilidade como um dos problemas enfrentados pela terceira idade. Basta ver como os @vovostiktokers se tornaram presentes no TikTok e como mostraram às pessoas como fazer parte da terceira idade não se encaixa nos estereótipos do grupo aos quais a população os enxerga, além de externar como os idosos têm capacidade de se inserirem na sociedade moderna, na internet e até se tornarem influenciadores digitais, o que geralmente é associado aos jovens.


Apesar de passar pelo luto após o falecimento de seu marido, Vó Nair não abandonou o TikTok, conquistando 10,2 milhões de seguidores no perfil em que criava conteúdos com o Vô Nelson e mostrando-se empoderada diante das dificuldades da vida.


Infelizmente, essa receptividade não ocorre para muitos idosos, que se sentem isolados e esquecidos pelo resto do mundo. De acordo com uma pesquisa realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos são os mais afetados pela depressão, atingindo cerca de 13% da população de 60 a 64 anos, o que mostra como a interação social e o cuidado da saúde mental desse grupo também são fundamentais para a manutenção de seu bem-estar e para garantir uma vida ativa, longeva e equilibrada para os mesmos.


Essas e tantas outras dificuldades deveriam ser combatidas com a aplicação do Estatuto do Idoso, mas ainda há muito o que se planejar e desenvolver a partir de textos formais para que a realidade da vivência dos idosos seja condizente com o que se passa pelo Estatuto.


Apesar das dificuldades, é importante lembrar sempre deste documento, que assim como a Constituição Federal de 1988 e a Declaração Universal dos Direitos Humanos trazem à tona a defesa dos direitos da população e mostram exatamente os pontos nos quais a sociedade ainda precisa se fortalecer e o que pode ser feito para melhorar a qualidade de vida da terceira idade em um período tão ativo e em constante evolução como é o século XXI.


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