top of page
  • Leonardo Reis

Segurança alimentar: os impactos do desperdício e do reaproveitamento de alimentos no Ceará

As ações humanas interferem no equilíbrio ambiental e na escassez de alimentos no Ceará





Estamos em um mês de reflexão do nosso agir em relação ao espaço onde habitamos. Um processo que envolve ciclos da natureza e nós seres humanos. No dia 05 de junho é comemorado o Dia Nacional da Reciclagem e o Dia da Ecologia que juntas, essas datas podem nos trazer uma reflexão sobre nossa alimentação e o desperdício de alimentos que acontece no Estado do Ceará.


O desperdício de alimentos existe, mesmo que cada um desperdice em poucas quantidades, quando somado tudo, gera toneladas de lixo orgânico que se mistura ao restante do lixo. O descuido com a alimentação e falta de orientação afetam na geração de resíduos orgânicos e consequentemente nos efeitos que são gerados em decorrência da falta de atenção.


Segundo a ONU, estima-se que entre 8% e 10% das emissões globais de gases de efeito estufa estão associadas a alimentos que não são consumidos. Além do desperdício, a contribuição para o efeito estufa é um agravante para os seres humanos, quanto mais gases, maior será a quantidade calor retirada da atmosfera, gerando aquecimento da superfície terrestre.


  • Saiba mais. O efeito estufa é um fenômeno natural ocasionado pela concentração de gases na atmosfera, os quais formam uma camada que permite a passagem dos raios solares e a absorção de calor.


O descarte do desperdício de alimentos na Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa) é feito diretamente pelos permissionários. A Ceasa não possui um programa oficial de descarte de alimentos, mas dentro da Ceasa existe o programa Fábrica de mais nutrição, que é um programa do Governo do Estado que funciona na Ceasa com a parceria dos permissionários.


Sobre o funcionamento do programa, os permissionários que são cadastrados no programa fazem as doações de seus alimentos que não estão em boas condições para serem comercializados, mas que estão bons para o consumo humano. O programa é do Governo do Estado do Ceará idealizado pelo gabinete da primeira-dama. Os alimentos são transformados em sopas desidratadas e doadas para instituições de caridade cadastradas na Secretaria de Proteção Social junto a Secretaria do Desenvolvimento Agrário, Instituto Agropolos e dos permissionários da Ceasa.


+ Escute o áudio do Centro de Abastecimento de Alimentos de Fortaleza. Sobre reaproveitamento de alimentos impróprios para venda.


Um dos projetos beneficiados com as doações da Ceasa é o Mesa Brasil Sesc, que, de janeiro a outubro de 2019, doou 2.683.789 quilos de alimentos, beneficiando 449 entidades sociais e atendendo a 202.340 pessoas de 40 municípios cearenses, a partir dos bancos de alimentos localizados em Fortaleza, Juazeiro do Norte, Sobral e Iguatu.


O projeto Mesa Brasil Sesc é uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome e o desperdício. Tem como objetivo receber doações de alimentos de empresas do ramo alimentício, instituições e voluntários, contribuir para a melhoria da qualidade de vida de pessoas em situação de pobreza.


Em 2019, de acordo com os dados do Mesa Brasil, 17.467.653 kg de alimentos já foram distribuídos e 1.494.557 pessoas são atendidas por dia. A iniciativa aceita doações de frutas, legumes e verduras, frios e laticínios, pães e massas, carnes e derivados, entre outros. Atualmente o Mesa Brasil tem mais 3,07 milhões de pessoas atendidas, 50,6 milhões kg de alimentos distribuídos, 6 mil entidades assistidas, 2,6 mil empresas parceiras e 3 mil ações educativas.


Quando se fala em fome no nordeste também é levado em consideração a situação de moradores de rua nas grandes cidades e até mesmo em cidades do interior. De acordo com o professor dos cursos de gastronomia e hotelaria IFCE campus Baturité e membro fundador do Observatório Cearense da Cultura Alimentar - OCCA, Roberto Araújo. “Podemos perceber muito nitidamente o quanto, por exemplo, cresceu durante esses tempos de pandemia a população em situação de rua, não mais aquela população que passava o dia na rua e tinha para onde voltar à noite. O que cresce são as pessoas vivendo na na rua e consequentemente no processo agudo de insegurança alimentar”, explica.


O desperdício tem sido uma grande preocupação não só para o Brasil, mas em escala mundial, conforme a explicação do professor Roberto. “Calcula-se que cerca de 30% dos alimentos produzidos não só no Brasil, mas em escala mundial são desperdiçados, sejam dispensados pelo mau uso ou uso incorreto ou incompleto desses alimentos”.


+ Escute o áudio de Roberto Araújo, professor dos cursos de gastronomia e hotelaria IFCE campus Baturité e membro fundador do Observatório Cearense da Cultura Alimentar - OCCA. Sobre a composição de alimentos da mesa do cearense.


O levantamento realizado com 700 famílias pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), revela que cada pessoa desperdiça mais de 41 quilos de alimentos por ano, sendo no total cerca de 37 milhões de toneladas de lixo orgânico, restos de alimentos que são desperdiçados e acabam indo para o lixo sem passar por um aproveitamento.


A compostagem é uma alternativa para o descarte desse lixo orgânico, ela é uma técnica que permite a transformação de restos orgânicos – folhas, galhos de árvores, resíduos animais, sobras de frutas, legumes e alimentos em geral – em adubo natural, que pode ser usado na agricultura, em jardins e plantas, substituindo o uso de produtos químicos. É uma forma de recuperar os nutrientes desses resíduos e levá-los de volta ao ciclo natural. “É um tratamento biológico para resíduos orgânicos que tem vários objetivos e estes são muito importantes. A sua serventia é uma das suas importâncias, pois ela serve para dar um tratamento adequado aos resíduos orgânicos gerados em residências, áreas agrícolas e industriais, evitando de serem destinados aos aterros sanitários e sobrecarregar os mesmos. Gerando assim uma importância ambiental enorme.”, explica o professor do departamento de ciências do solo da UFC, Raul Toma.


Raul comenta que por conta do crescimento populacional mundial, houve um aumento significativo da produção de resíduos orgânicos que, em sua maioria, não possuem um descarte adequado. Dessa forma, a compostagem dá oportunidade para que esses restos orgânicos sejam aproveitados e não acabem em lugares abertos, contaminando os solos e as águas superficiais e subsuperficiais, despejados em rios ou enviados para aterros sanitários.


  • Saiba mais. A compostagem também gera CO2, que é um elemento que somado aos gases do efeito estufa. Porém, os resíduos orgânicos que são destinados aos aterros, em sua degradação geram metano, que é um gás do efeito estufa aproximadamente 25 vezes pior do que o CO2 no ataque a camada de ozônio do nosso planeta.


De acordo com o manual Compostagem Doméstica, Comunitária e Institucional de Resíduos Orgânicos, publicado pelo Ministério do Meio Ambiente, cerca de 50% dos resíduos urbanos gerados no Brasil são orgânicos, e poderiam ser reciclados em casa ou em escala industrial. Para Raul, é importante se ter essa consciência nas residências, nas áreas agrícolas e também industriais, porém ele afirma que apesar de ser um processo simples é preciso entendê-lo, pois, é um processo controlado e que exige que algumas regras sejam respeitadas, para que tudo ocorra de maneira eficiente.


No entanto, o professor acredita que a compostagem não tem uma relação direta com o combate ao desperdício de alimentos, pois,“isso tem que ser feito por cada morador ao aproveitar ao máximo seu alimento, sejam as cascas e as sobras. Uma coisa que tem sempre que se ter em mente é que o ideal seria destinar o mínimo possível de alimentos a compostagem, visto que isso significaria que os alimentos foram usados e não estão sendo desperdiçados, e destinar a compostagem apenas aqueles resíduos orgânicos que realmente não podem ser utilizados na cozinha. A compostagem é uma técnica de aproveitamento/tratamento de resíduo e não de desperdício”, defende.


ECOAÇÕES. Série de reportagens sobre reflexões das ações humanas no meio ambiente. Diante das crises mundiais, vamos ver o que o nosso local está enfrentando. Um momento para analisar nossas ações e os impactos em nosso cotidiano cearense.

bottom of page