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  • Grasielly Sousa

Podres de Ricos e a importância da representatividade étnica nas telonas

Você já ouviu falar no filme Podres de Ricos (Crazy Rich Asians)? Pois deveria. A produção da Warner Bros estreou nos EUA no dia 15 de agosto e rapidamente conquistou o público e a crítica especializada. O filme fechou o primeiro final de semana em primeiro lugar, ultrapassando blockbusters como Megatubarão e Missão Impossível e arrecadando US$ 25,2 milhões. Além de conquistar 94% no Rotten Tomatoes, um site especializado em crítica de cinema.

Baseado no livro de mesmo nome escrito por Kevin Kwan, a comédia romântica acompanha uma mulher que viaja para Singapura para conhecer a família riquíssima do namorado. O filme só chega no Brasil em 25 de outubro, mas ele já vem marcando um ano bastante especial para a representatividade das minorias étnicas. Podres de Ricos é o primeiro filme de um estúdio grande de Hollywood a ter um elenco predominantemente asiático desde O Clube da Felicidade e da Sorte (The Joy Luck Club) de 1993. Pois é, essa informação é realmente chocante e, infelizmente, real.

Foto: Reprodução

Mas a representatividade é realmente importante? Que diferença faz se um filme é estrelado por atores brancos, negros, asiáticos, homens, mulheres, lésbicas, trans, gays? Todos crescem consumindo esses produtos, entre filmes, séries e novelas e muitos não conseguem se ver nessas produções, ou por não ser magra o suficiente, não ser branca o suficiente, não ser no padrão de sempre.

É muito difícil explicar como isso pode afetar uma pessoa. Pode parecer algo fútil, sem grande importância, principalmente quando você é branco, cis, hétero e totalmente dentro dos brancos (já que você está representado em literalmente qualquer coisa), mas é necessário entender a influência que a mídia de uma forma geral tem no crescimento das pessoas. E não estou falando de influência de “meu deus, tem duas mulheres se beijando na tv. Agora eu sou lésbica”, mas sim na parte da pessoa conseguir se entender e se aceitar.

Eu sempre valorizei a importância de conseguir se ver na tela da televisão ou do cinema. De forma até irritante, na maioria das vezes. Falando loucamente sobre o assunto, querendo consumir mais e mais. Eu me empolgo fácil e com pouco. Isso porque cresci com quase nada. Mesmo sendo uma mulher branca, mas mesmo assim fora dos padrões.

Além da visão do telespectador, existe também a do profissional. A falta de espaço para atores fora do padrão hollywoodiano traz problemas até quando existe a abertura para a inclusão em grandes produções. Jon M. Chu, diretor de Podres de Ricos, afirmou em uma entrevista que teve dificuldade em encontrar atores para o elenco. “Os atores nem sempre tinham a mais alta qualidade, pois não têm experiência, eu sempre encontro alguns, às vezes até vários, que nunca tiveram uma oportunidade. Mas quando eu faço um filme com atores brancos como protagonistas, os artistas estão por toda a parte.”, disse o diretor ao Buzzfeed News.

Hollywood é conhecido pelo whitewashing em seus blockbusters, sempre trazendo o herói branco para salvar o dia. O termo whitewashing é usado quando existe a escalação de brancos em papéis que deveriam pertencer a atores de outras etnias. Esses casos acontecem até hoje, como Johnny Depp como índio Tonto em O Cavaleiro Solitário, Scarlett Johansson no Vigilante do Amanhã e o protagonismo de um homem branco em Stonewall. E quase aconteceu com Podres de Ricos, onde no projeto inicial a produtora queria trazer uma protagonista branca no lugar da personagem de origem chinesa (mas que felizmente o papel ficou com a maravilhosa Constance Wu).

Casos assim estão presentes desde sempre no cinema americano. Muitas vezes, eles escalam atores para cercar o principal e mostrar a situação, porém o rosto que vai vender o filme é sempre branco e americano, como é o caso de A Grande Muralha, que traz Matt Damon como o grande salvador da China.

Mas Podres de Ricos não foi o único filme de destaque nesse ano em questão de representatividade étnica. No começo do ano, a Marvel/Disney nos presenteou com o belíssimo Pantera Negra, primeiro filme de super-herói protagonizado por um negro. Parece absurdo pensar que entre os milhares de filmes de herói que saem toda hora, esta é a primeira vez que um negro é protagonista. E até ano passado, com Mulher Maravilha, as mulheres também não tinham essa representação.

O herói que traz no seu nome todo um movimento finalmente chegou ao cinema. E além do protagonista negro, quase todo o elenco e pessoas da produção são negros. E com isso, o filme conseguiu trazer tudo que se espera de um filme de super-herói e algo muito além disso, carregado de uma crítica social e de empoderamento dos personagens. Isto refletiu na popularidade e sucesso do filme, que até o momento tem a segunda maior bilheteria mundial do ano.

A representatividade é importante exatamente por isso. Abrir espaço para que pessoas possam sonhar e ir atrás desses sonhos. Mostrar que é possível conquistar algo mesmo quando você não se encaixa no padrão. É possível sonhar com esse universo, ser um herói, se apaixonar, crescer e viver.

Obviamente ainda existe um caminho muito árduo para trilhar, mas sempre esses pequenos gestos se tornam algo extremamente grande. E eu poderia ainda me prolongar ainda mais e falar da representatividade latina que também vem crescendo (pelo menos na televisão). Séries como One Day at a Time, Jane the Virgin e (menos conhecida, mas também muito importante) Vida, que tem latinos não apenas entre os protagonistas, mas também em várias partes da sua produção e vem fazendo um trabalho incrível e que merece reconhecimento.

Mas o que importa é que o público está sedento por esse conteúdo. Então por favor, Hollywood, continue produzindo!

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