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  • Grasielly Sousa

A voz do Oscar


Na segunda-feira (25), ressaca do Oscar, acordo com a seguinte notícia: “Mulheres e negros ganham número recorde de prêmios”. Foram 7 para negros e 15 para mulheres. Por curiosidade, olhei quantas pessoas ganharam neste ano: 54. É ótimo ver mais mulheres e negros recebendo destaque na principal premiação de cinema no mundo, mas a diferença continua absurda.

Isso começa através de oportunidades. É isto. Para quem não sabe ainda, homem branco é privilegiado. E, para chegar ao Oscar, é preciso alguém apostar (com muito dinheiro) em você e no seu projeto. A Netflix, por exemplo, investiu em uma campanha de cerca de US$ 60 milhões para colocar Roma no Oscar. Um valor 4 vezes maior do que o orçamento para fazer o filme.

Existe um padrão de escolhidos para a temporada de premiação. Um padrão agradável para a academia. Um padrão sem mulheres. Pelo menos, é essa a sensação passada. Em 91 edições, cinco mulheres foram indicadas ao prêmio de melhor direção. Uma venceu. Em 2018, Rachel Morrison foi a primeira mulher a concorrer na categoria direção de fotografia. A prevalência é masculina.

Uma vez, questionado sobre a falta de filmes dirigidos por mulheres em sua produtora, Jason Blum, que concorreu ao Oscar nos dois últimos anos com Corra e Infiltrado na Klan, afirmou: “Não existem muitas diretoras, isso é um fato, e muito menos as que estão inclinadas para o terror”. Meu caro Blum, existem mulheres diretoras, o problema é não conseguir enxergá-las.

A situação é refletida no produto final. Uma análise feita por Hannah Anderson, da BBC, mostrou que a maioria das falas nos filmes vencedores do Oscar são de personagens masculinos. Foram considerados filmes de 1991 a 2016. Neste período, o único com protagonismo feminino é Chicago. Em alguns casos, mesmo quando a mulher tem um papel principal, o filme valoriza a voz masculina.

Em 2019, a voz do Oscar permaneceu masculina. Bohemian Rhapsody, o mais premiado da noite, quase não tem mulheres no elenco. Green Book (foto em destaque), vencedor do prêmio de melhor filme, é um grande diálogo entre dois homens. E, assim, continuamos condecorando os homens de Hollywood.

Vivemos em um mundo dominado por homens, infelizmente. Somos silenciadas de todas as formas. Mas, ainda assim, não paramos de gritar e de lutar por espaço. Eu faço um pedido: vamos valorizar as mulheres! Vamos procurar filmes protagonizados por elas, dirigidos por elas, escritos por elas. Mesmo sem o reconhecimento de premiações, não deixemos de reconhecê-las.

 

Lista de filmes que passam no teste de Bechdel (essa lista também usa como base a pesquisa da Hannah Anderson)

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