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  • Juliana Ojuara

A responsabilidade do Governo Bolsonaro sobre a alta do preço dos alimentos

Bolsonaro fez questão de desmantelar o método até então existente de estocagem de alimentos ao anunciar, em 2019, a venda de 27 unidades da Conab

Pessoa separando o arroz. Imagens schumacher

Desde sua posse, em janeiro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro tem atuado para a destruição do Estado brasileiro. Prega o “livre mercado” e usa a máquina pública para defender os interesses dos grandes empresários nacionais e internacionais. Mais entreguista impossível.

Embora a população brasileira não tenha a real noção do que significa esse modo de governar do presidente liberalóide, sente na pele diariamente suas consequências. Um exemplo é a alta dos preços dos alimentos, em especial de itens como arroz e óleo de soja.

Os principais portais de notícias e revistas semanais brasileiros apontaram o aumento do preço do arroz como uma consequência da alta do dólar e uma quebra de safra no Rio Grande do Sul. São motivos relevantes, mas longe de serem os principais.

O que está arruinando qualquer garantia de alimento na mesa do nosso povo, em primeiríssimo lugar, é a política de governo do atual presidente e seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Eventos como a alta do dólar, quebra de safra e inclusive a pandemia do coronavírus são acontecimentos que não controlamos. Imprevistos podem ocorrer, por isso o Estado brasileiro deve estar preparado para proteger e garantir segurança alimentar para sua população. Bolsonaro fez questão de desmantelar o método até então existente para isso.

Em 2019, o Ministério da Agricultura, comandado hoje por Tereza Cristina (conhecida como a “Musa do Veneno”), anunciou a venda de 27 unidades de armazenamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) com a justificativa de redução de gastos e diminuição da interferência do estado no mercado.

Até então, a Conab cumpria um papel essencial com o Programa de Aquisição de Alimentos, estocando e liberando a produção em períodos de necessidade como esse, seja vendendo grãos a preço mínimo para agricultores manterem a produção de outros insumos; seja em outros momentos-chave, com aquele em que houve a necessidade da Greve dos Caminhoneiros; seja para o mercado consumidor, pois evita a falta do produto no mercado e, por consequência, o aumento do seu preço.

Com a diminuição proposital da capacidade de compra e estocagem da Companhia Nacional de Abastecimento, o Governo Bolsonaro lava as mãos e deixa o brasileiro e a brasileira sem suporte algum. Se antes já era difícil garantir o direito essencial humano de se alimentar para quase 210 milhões de pessoas, agora, com um governo assumidamente omisso, os problemas já existentes de fome e miséria se aprofundam.

Tudo está interligado. Nossa desgraça pode ser desenhada, e seus resultados destrutivos já são previstos. Jair Bolsonaro tem provado como ele é capaz de arruinar a vida dos brasileiros com a contribuição do parlamento, do Supremo Tribunal Federal (STF) e da grande mídia tradicional.

A pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil em uma conjuntura política, social e econômica brasileira complicadíssima. O nosso país corre o risco de voltar ao mapa da fome; os serviços públicos estão sendo constantemente atacados; a aprovação de medidas anteriores, como a PEC do Teto de Gastos, os direitos trabalhistas destruídos e Previdência surrupiada.

Tudo isso somado à total irresponsabilidade e ao pouco caso do presidente já levou à morte 145 mil pessoas por Covid-19, em sua grande maioria pobres, moradoras das periferias dos grandes centros urbanos, locais precários, sem saneamento básico ou estrutura mínima digna de sobrevivência.

O Sistema Único de Saúde (SUS), que mês passado completou 30 anos de existência, está sendo desmantelado com mais força e os resultados são os piores para todos nós e os melhores para os donos de planos de saúde privados. Basta notar a mais recente lista de bilionários brasileiros da Forbes, que apontou três membros da mesma família dona do Hapvida como os mais ricos do Ceará.

O Auxílio Emergencial, iniciativa aprovada no Congresso Nacional muito em função da pressão dos partidos de esquerda, foi aplicado com muita resistência do governo federal e milhões de brasileiros inclusive cadastrados no programa Bolsa Família puderam ser beneficiados.

Mesmo assim, com a necessidade do isolamento social durante a pandemia, aumento do desemprego, risco constante de contaminação e insistente propaganda do governo federal contra as tentativas de cumprimento do isolamento, coletivos, associações e movimentos sociais, atuaram fortemente nas periferias para garantir distribuição de alimentos para as pessoas mais necessitadas.

Isso permitiu que em seis meses de pandemia centenas de famílias conseguissem colocar comida na mesa durante o fechamento do comércio e das demais atividades. O Auxílio Emergencial foi prorrogado, mas o valor caiu pela metade. Com o aumento substancial dos preços de itens alimentícios importantes, a população não consegue se manter de forma satisfatória.

Uma outra consequência é o aumento do valor da cesta básica, que dificulta a aquisição que estava sendo feita para doação. Importante destacar que o movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), maior produtor de arroz orgânico da América Latina, está conseguindo garantir seu arroz a preço justo. Uma ótima alternativa seria os movimentos sociais e coletivos de luta que ainda estão com suas campanhas de arrecadação acontecendo verificar possibilidade de fechar a compra da cesta básica feita com os produtos orgânicos do MST. Além de garantir a continuidade das ações nas periferias, os produtos orgânicos livres de agrotóxicos seriam oferecidos às famílias mais pobres.

Somos capazes de fazer muito quando nos organizamos, mas nunca devemos perder de vista o caráter de enfrentamento a esse sistema e a constante luta por direitos sociais para nosso povo ao cobrar responsabilidade dos órgãos públicos, municipais, estaduais e federais.

Devemos sempre politizar as ações. Precisamos todos compreender que, embora estejamos lutando pela garantia de alimento para as populações periféricas, essas pessoas mais atingidas pela política de Bolsonaro e Paulo Guedes precisam saber a fonte do seu sofrimento. As eleições municipais estão logo ali, a campanha começou oficialmente, a eleição para prefeito e vereadores que se alinham à política do governo federal será catastrófico para a nossa Fortaleza.

*Juliana Ojuara tem 28 anos e mora no Jangurussu. Mulher, negra e lésbica, filha de mãe trabalhadora doméstica e de pai ex-catador, desde criança sabe da importância de políticas públicas que garanta os direitos de crianças e adolescentes nas periferias. É administradora de formação e hoje coordena e milita no Movimento Social Círculos Populares.

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