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  • Carlos Donisete

BBB e moradores de RUA

(Cara de abestado, jeito de abestado e fala de abestado, ativar!)


Bem-vindos ao Canal Lata Cinza. Mais uma vez, temos como tema a situação de rua. Hoje, falaremos sobre o quanto o BBB tem de situação de rua e o quanto de rua tem o BBB. Já sabem o que devem fazer: fortaleça a cena, torne-se membro do canal e é isso! Sem enrolação, vamos para o vídeo!


Para entrarem na Casa do BBB, os “brothers” se inscrevem e participam de seletiva; já os “manos” não escolheram morar nas ruas, mas os processos eliminatórios dos microcancelamentos foram e são feitos a toda hora.


Na “Casa”, os “brothers” são acompanhados por câmeras de pay-per-view, enquanto os “manos” são bisbilhotados pelas câmeras de segurança instaladas nos principais pontos da cidade, além das câmeras das residências e das lojas.


Dependendo da ocorrência e dos interesses envolvidos, a edição de imagens funciona muito bem. Chega uma hora em que as pessoas confinadas na “Casa” ou os “manos” encarcerados ao ar livre esquecem das câmeras para a alegria dos (tel)espectadores.


O principal sistema de comunicação na rua é o boca a boca, tanto para fake news, como para localizar alguém ou mandar recados. Os “manos” também têm seu paredão falso: quando “matam” alguém e depois de algum tempo o indivíduo reaparece do nada, deixando todo mundo só naquela.


As festas do líder se comparam aos grandes eventos na Praça do Ferreira (carnaval, shows, festivais) que aconteceram num passado recente pré-pandemia. Aliás, saudade de “virar a perna, né, minha filha?”


As provas de resistência e os prêmios individuais nas ruas são o não morrer e ficar de bucho cheio, respectivamente. O maior prêmio para quem está na rua é sair dela, mas é para poucos felizardos. A maioria quer sair da rua, mas só vontade não basta, tem que fazer alianças, traçar estratégias, escapar do paredão.


O BBB é colorido, a rua é cinza!


Nesta edição, tivemos muitas situações interessantes, como a militância acadêmica da Lumena, o machismo, a lgbtqia+fobia, a desigualdade social, a violência. Nas ruas, essas e outras questões são vivenciadas pra valer; o foco é a sobrevivência. Na tevê, muita lacração termina em cancelamento, do qual, muitas vezes, o “brother” consegue se recuperar; já nas ruas, cancelar os já cancelados implica numa violência mais crua.


Mesmo sem que tenhamos estudos, tanto na primeira onda, como na segunda, é evidente que o coronavírus atingiu em cheio a população de rua. Já os brothers são acompanhados diariamente e tal. Para os “manos”, a vacinação será feita na quarta fase, lembrando que muitos não têm sequer documentos e, às vezes, “nem podem” tê-los, fora que, para a vacinação dar certo, tudo depende de um boca a boca eficiente. Vai aparecer o link sobre sindemia depois daqui, corra pra lá!


Na “Casa”, o público escolhe quem vai sair temporária ou definitivamente, enquanto nas calçadas se pinçam os “manos” que vão pro céu. Só esquecem de perguntar para os escolhidos se eles querem de fato ir para lá. “Call me by your name” na lata e em Fortaleza. O corona-bala continua firme e forte!


Queremos paz, pés, pix, pós, pua... aliás, queremos o alfabeto inteiro.


Curta, comente, compartilhe, se inscreva no canal e ative o sininho.


Cuida!


Vamos dar uma espiadinha?




* Carlos Donisete é sociólogo e integra o Movimento Nacional de População de Rua.


** O conteúdo deste artigo de opinião é de responsabilidade de seu autor e não necessariamente reflete a linha editorial do Portal da Liga.


*** Este artigo de opinião foi produzido no âmbito da Formação de Articulistas da Liga, formação oferecida a representantes de movimentos sociais pela Liga Experimental de Comunicação, projeto de extensão dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará (UFC).

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