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  • Carlos Donisete

Dead Democracy

Em formato de crônica, o sociólogo e escritor Carlos Donisete reflete sobre a necropolítica experimentada pela sociedade brasileira


Bolsonaro participa de ato pelo fechamento do Congresso. 19 04 2020, Brasília / Foto: Gabriela Biló

O nosso encontro de hoje será um papo reto sobre necropolítica. Sem vinheta, sem massagem, sem mimimi.


Segundo o filósofo, teórico político e historiador camaronês Achille Mbembe, necropolítica é o poder de ditar quem pode viver e quem deve morrer. Cabe ao Estado estabelecer os limites para o exercício da força estatal e da coerção sobre direitos individuais, mas, em vez disso, utiliza seu poder e discurso para criar zonas de morte, transformando a morte em seu último exercício de dominação.


Existem estruturas com o objetivo de provocar a destruição de alguns grupos nos “mundos de morte” — formas de existência social nas quais vastas populações são submetidas a condições de vida que conferem a esses grupos um status de “mortos-vivos”.


Funciona assim: é apresentado o discurso de que determinados grupos encarnam um inimigo (por vezes fictício). A resposta é que, com suas mortes, não haverá mais violência; assim, matar as pessoas desse grupo pode ser aceito como um mecanismo de segurança. Trata-se de um estado de exceção para mostrar como uma relação de inimizade torna-se a base de uma licença para matar e como o poder apela a uma exceção (emergência fictícia da existência do inimigo) para justificar o extermínio.


Em Pindorama, temos 521 anos de necropolítica: o genocídio da população indígena, o genocídio da população negra e, com mais intensidade atualmente, o genocídio da população pobre (de todas as cores) por meio de instrumentos que violam os direitos como a guerra ao tráfico e à criminalidade, por meio do sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da falta de saneamento básico, do desemprego...


A necropolítica e o coronavírus


É fato que o coronavírus não faz distinção quanto ao contágio. No entanto, o comportamento adotado pelo Estado pode ser capaz de produzir dinâmicas de diferenciação; a necropolítica pode ajudar a entender porque determinadas pessoas são mais vulneráveis à Covid-19.


A alta letalidade (no Brasil, já são 460 mil vítimas do coronavírus, para uma doença cuja vacina já existe) e o números de casos inexplicavelmente baixos despertam questionamentos sobre os dados sobre a pandemia entre a população de rua, só aumentando a sensação de insegurança.


Entre salvar vidas ou salvar a economia, a pessoa (“imorrível, “imbrochável” e “incomível”) que está na presidência da República conseguiu fazer o mais difícil, que foi lascar com a saúde e com a economia: ao “brigar” com a China, irritamos nosso maior parceiro comercial e deixamos de receber os insumos para a produção da vacina no Brasil. Os negacionistas negarão e é esta a função deles, né?


Ceará


No Ceará, a vacinação está devagar quase parando; em Fortaleza, estamos na terceira fase, e muitas pessoas estão sem previsão de serem vacinadas. Há indicativos de uma terceira onda de Covid-19, enquanto nem saímos da primeira. Iemanjá que nos ajude com este tsunami.


Ao modo americano


O título deste texto, em inglês, é para tirar de tempo mesmo, a “América” tem muita coisa interessante, mas só copiamos mal e porcamente as coisas ruins. Lá, por exemplo, já superaram o louco superior deles. Quando nós superaremos o louco daqui?


Nosso próximo contato será acerca de 69 fatos sobre alguma subcelebridade ou sobre mim mesma! Façam perguntas lá no Insta, Twitter; como vocês já sabem, o canal é nosso! Enquanto isso, escute Xuxa de trás pra frente, facilitará as coisas.


Vai dar certo, porque errado já deu. Perceba o fundo do poço onde nos encontramos. Estamos descobrindo juntos que há subsolo no fundo do poço.


Sobreviva, se possível. Faremos o mesmo, se possível. Celebraremos, quando possível.


Um beijo na Cura!



* Carlos Donisete é sociólogo e integra o Movimento Nacional de População de Rua.


** O conteúdo deste artigo de opinião é de responsabilidade de seu autor e não necessariamente reflete a linha editorial do Portal da Liga.


*** Este artigo de opinião foi produzido no âmbito da Formação de Articulistas da Liga, formação oferecida a representantes de movimentos sociais pela Liga Experimental de Comunicação, projeto de extensão dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará (UFC).



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