top of page
  • Juliana Ojuara

A negação do decreto, da pandemia e da vida

Em meio ao agravamento da pandemia de covid-19, parlamentares da direita cearense estão estimulando bares, restaurantes e barracas de praia a desobedecerem o decreto estadual que limita horário de estabelecimentos e impõe toque de recolher.


Imagem: Mateus Dantas/ Câmara Municipal de Fortaleza

Diante de mais um aumento preocupante do número de casos de Covid-19 no Ceará, um novo decreto que determina novas regras de isolamento foi publicado pelo governador Camilo Santana (PT), em que estabelecimentos comerciais - com exceção de serviços essenciais - devem fechar às 19h de segunda às sexta-feira às 15h nos fins de semana, podendo funcionar apenas os serviços de entrega.


Sabemos que o Hospital Leonardo da Vinci, referência em atendimento de pessoas infectadas pela Covid-19 no Ceará, está com mais de 90% dos seus leitos de UTI ocupados. Mesmo assim, o atual decreto em vigor não encontra apoio na opinião pública.


O medo de mais demissões e do fechamento de pequenas e médias empresas no Estado, além do trabalho coordenado e articulado da direita cearense para divulgação de desinformação e enfrentamento a medidas de proteção aos trabalhadores e trabalhadoras, está dificultando a atuação dos profissionais da saúde e segurança no cumprimento das medidas de isolamento necessárias para a contenção do contágio.


Enquanto isso, o processo de vacinação iniciado em 18 de janeiro está lento. Um plano foi elaborado, e pessoas dos grupos prioritários estipulados pela Secretaria Municipal de Saúde estão sendo imunizadas na primeira fase de vacinação. Se continuar assim, a perspectiva é de que essa fase seja concluída somente em dezembro.


Manipulando a opinião pública


Nesse contexto de incertezas, deputados e vereadores da direita estão promovendo ações nas ruas e nas redes sociais com o objetivo de manipular a opinião pública contra as medidas que estão sendo tomadas pelas gestões municipal e estadual.


Colocando a si mesmos como defensores dos trabalhadores, estão apoiando a desobediência de bares, restaurantes e barracas de praia contra o decreto e atuando fortemente nos parlamentos para derrubá-lo.


Enquanto isso, absolutamente nada sobre a imunização dos trabalhadores, as condições de trabalho durante a pandemia, renda básica e proteção dos empregos está sendo debatido por essas pessoas.


A farsa está em ganhar capital político da burguesia, da classe média e da classe trabalhadora desesperada em favor de seus próprios interesses, que são puramente econômicos.


Renda básica e vacinação


Há uma movimentação da esquerda para pautar esse debate pela renda básica, compra de mais doses da vacina e imunização da população em tempo hábil, mas esse discurso ainda não está na rua.


Ações de comunicação em prol dessas pautas ainda não foram feitas e estamos perdendo muito tempo deixando grupos de direita pró-Bolsonaro atrapalhar qualquer tentativa de evitar mortes por Covid-19 no Ceará.


Desde o início da pandemia, nós, dos movimentos sociais, alertamos para a necessidade de prevenção nas periferias, com hospitais de campanha e distribuição de alimentos e insumos para as pessoas mais vulneráveis.


Consultando os boletins epidemiológicos postados pela Prefeitura Municipal de Fortaleza semanalmente, é possível constatar uma informação que já prevíamos: embora o contágio tenha começado nos bairros nobres da cidade e a quantidade de casos registrados ser mais alta, o número de óbitos é maior nos bairros onde concentram áreas de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).


Nas comunidades de Fortaleza, os estabelecimentos comerciais estão funcionando com lotação. Soma-se a isso o fato de as pessoas estarem negligenciando o uso da máscara de proteção contra o vírus. Além disso, é forte a desinformação sobre os números crescentes de casos e também sobre a vacina — pessoas com medo de supostos efeitos colaterais informados por meio de notícias falsas afirmam que não vão tomar a vacina. Em meio a esse cenário, é possível concluir que estamos muito longe de pôr um fim definitivo nessa pandemia que continua vitimando as pessoas mais pobres e desassistidas deste país.



*Juliana Ojuara tem 28 anos e mora no Jangurussu. Mulher, negra e lésbica, filha de mãe trabalhadora doméstica e de pai ex-catador, desde criança sabe da importância de políticas públicas que garanta os direitos de crianças e adolescentes nas periferias. É administradora de formação e hoje coordena e milita no Movimento Social Círculos Populares.


** O conteúdo deste artigo de opinião é de responsabilidade de sua autora e não necessariamente reflete a linha editorial do Portal da Liga.


*** Este artigo de opinião foi produzido no âmbito da Formação de Articulistas da Liga, formação oferecida a representantes de movimentos sociais pela Liga Experimental de Comunicação, projeto de extensão dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará (UFC).


bottom of page